domingo, 29 de novembro de 2009

Lorena





Conheci uma menina.
Menina bonita, calada... sempre amiga.
Hoje não a vejo mais: sumiu!

O que terá acontecido a ela?
Conheceu gente nova? Esqueceu os antigos?
Como anda essa menina: feliz ou triste?
Me fica a dúvida. Sempre a saudade...

Mas ela cresceu, ficou mais bonita
Ainda lembro do sorriso, encurtando os olhos
Dum jeitinho maroto só dela.

Confio, ainda, em minha memória
Minha primeira admiradora, quase secreta
Dos tempos do colegial, ainda meninos

O que terá acontecido a ela?
Hoje não a vejo mais: sumiu!
Será que a moça lembra de mim?
Me fica a dúvida. Sempre a saudade...

Jardel Leite

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A MOÇA DO TEATRO



Por onde anda a moça bonita?
Aquela, a moça que faz teatro.
Isso... a que também dança e canta.
A moça que fala francês, escreve poesias
e entende de vinhos

Aquela moça de preto, cabelo curto,
Fala rápida e sorriso grande.
A mesma moça que encena situações,
Cria ações e gera emoções.

Por onde anda a moça? Não sabe quem é?
Meu Deus... Ninguém a conhece?
Ela passou aqui há pouco... Seu nome?
Faz parte do seu mistério.
Talvez você conheça alguma personagem sua,
Eu conheço, talvez

Puxa... Que conversa boa ela tem!
Que risada gostosa, voz arrastada...
Tão inteligente a moça, tenho medo de
Me faltar o assunto

Cadê a moça?
Talvez esteja em algum palco.
Ou só em minha cabeça.
Será que ela existe?

Cadê a moça?

Jardel Leite

domingo, 15 de novembro de 2009

Um terceiro deus




Creio que as teses de Huntington sobre o “choque de civilizações”, atacadas por uns e celebradas por outros aquando do seu aparecimento, mereceriam agora um estudo mais atento e menos apaixonado. Temo-nos habituado à ideia de que a cultura é uma espécie de panaceia universal e de que os intercâmbios culturais são o melhor caminho para a solução dos conflitos. Sou menos optimista. Creio que só uma manifesta e activa vontade de paz poderia abrir a porta a esse fluxo cultural multidireccional, sem ânimo de domínio de qualquer das suas partes. Essa vontade talvez exista por aí, mas não os meios para a concretizar.

Cristianismo e islamismo continuam a comportar-se como inconciliáveis irmãos inimigos incapazes de chegar ao desejado pacto de não agressão que talvez trouxesse alguma paz ao mundo. Ora, já que inventámos Deus e Alá, com os desastrosos resultados conhecidos, a solução talvez estivesse em criar um terceiro deus com poderes suficientes para obrigar os impertinentes desavindos a depor as armas e deixar a humanidade em paz. E que depois esse terceiro deus nos fizesse o favor de retirar-se do cenário onde se vem desenrolando a tragédia de um inventor, o homem, escravizado pela sua própria criação, deus. O mais provável, porém, é que isto não tenha remédio e que as civilizações continuem a chocar-se umas com as outras.


José Saramago

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Biografia - BERTOLT BRECHT

Nascido no Estado Livre da Baviera, extremo sul da Alemanha, Brecht estudou medicina e trabalhou como enfermeiro num hospital em Munique durante a Primeira Guerra Mundial. Filho de Berthold Brecht, que era diretor de uma fábrica de papel, católico, exigente e autoritário, e de Sophie Brezing (em solteira), protestante, que fez seu filho ser batizado nesta igreja.

Suas primeiras peças foram encenadas na vizinha Munique. Baal (1918/1926) e Tambores na Noite (Trommeln in der Nacht) (1918-1920)). Em sua participação no teatro Brecht conhece o diretor de teatro e cinema Erich Engel com quem veio a trabalhar até o fim da sua vida.

Depois da primeira grande guerra mudou-se para Berlim, onde o influente crítico, Herbert Ihering, chamou-lhe a atenção para a apetência do público pelo teatro moderno. Trabalha inicialmente com Erwin Piscator, famoso por suas cenas Piscator, como eram chamadas, cheias de projeções de filmes, cartazes, etc. Em Berlim, a peça Im Dickicht der Städte, protagonizada por Fritz Kortner e dirigida por Engel, tornou-se o seu primeiro sucesso.

O Nazismo afirmava-se como a força renovadora que iria reerguer o país, pretendendo reviver o Sacro Império Romano-Germânico. Mas, ao mesmo tempo, chegavam à Alemanha influências da recém formada União Soviética.

Com a eleição de Hitler, em 1933, Brecht exila-se primeiro na Áustria, depois Suíça, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Inglaterra, Rússia e finalmente nos Estados Unidos. Recebeu o Prêmio Lênin da Paz em 1954.

Seus textos e montagens o fizeram conhecido mundialmente. Brecht é um dos escritores fundamentais deste século: revolucionou a teoria e a prática da dramaturgia e da encenação, mudou completamente a função e o sentido social do teatro, usando-o como arma de conscientização e politização.

domingo, 1 de novembro de 2009

CEARENSE

Cearense não briga... ele risca a faca!
Cearense não vai em festa... ele vai farrear!
Cearense não vai embora... ele pega o beco!
Cearense não bate... ele mete a peia!
Cearense não sai pra confusão... ele sai pros figth!
Cearense não bebe um drink... ele toma uma ou melhor birita!
Cearense não joga fora... ele rebola no mato!
Cearense não é brigão... é arrochado!
Cearense não discute... ele bota boneco ou bota queixo!
Cearense não é sortudo... ele é cagado!
Cearense não corre... ele faz carrera!
Cearense não ri... ele se abre!
Cearense não brinca... ele fresca!
Cearense não toma água com açúcar... ele toma garapa!
Cearense não exagera... ele alopra!
Cearense não percebe... ele dá fé!
Cearense não vigia as coisas... ele pastora!
Cearense não vê destruição... ele vê só o distroço!
Cearense não se apressa... ele avia!
Cearense não observa... ele passa os pano!
Cearense não agarra a mulher... ele arroxa!
Cearense não bate... dá uma mãozada no pé do ouvido !
Cearense não ganha dinheiro... ele se estriba!!!!