domingo, 17 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
A Volta da Mulher Morena
Meus amigos meus irmãos
Cegai os olhos da mulher morena,
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo,
Estão me despertando de noite
Meus amigos meus irmãos
Cortai os lábios da mulher morena,
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios
Meus amigos meus irmãos
E vós que amai a poesia de minh'alma
Cortai os peitos da mulher morena,
Que os peitos da mulher morena sufocam meu sono
E trazem cores tristes pros meus olhos
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes,
Salva-me dos braços da mulher morena,
Eles são laços, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam
Aventureira do rio da vida
Compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria
Branca rosinha dos caminhos
Reza pra ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando meus ombros
Está trazendo tosse má para o meu peito
Meus amigos meus irmãos
E vós todos que guardai ainda meus últimos cantos
Daí morte cruel a mulher morena.
Vinícius de Moraes
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