Tudo por uma dança. Tudo que eu queria agora era dançar com você. Uma musica bem baixinho, só a gente. Nenhuma específica, só uma que fosse especial. Alguma que pudéssemos lembrar algo só nosso.
Dançar e te abraçar. Seria uma boa desculpa para te ter perto de novo e sentir teu cheiro, alguns fios do teu cabelo entrando na minha boca ou no meu olho, como sempre acontecia quando estávamos abraçados. Eu poderia sentir tua cintura, trazê-la sutilmente para perto de mim enquanto você apoia seu queixo no meu ombro, de olhinhos fechados. A música entraria por dentro dos meus ouvidos e, por estar colado aos meus, passaria aos seus.
Há algo mais simples e inofensivo do que uma dança? Principalmente uma dança nessas condições? E por que raios eu nunca dancei com você em tanto tempo juntos? E por quanto tempo, e por quais outros motivos, eu continuaria fugindo de você, sem nos proporcionar esse prazer?
Talvez o mais triste disso tudo tenha sido eu não perceber que você já nem insistia mais. E hoje eu danço com você, todas as noites. Sempre uma música diferente, no meu quarto. Mesmo sem saber dançar, mas sei que você está gostando. Não tanto pela dança em si (ou minha questionável performance), mas mais pelo fato de eu estar tentando.
Minha cama, nossas fotos, meus livros – todos testemunhas dessa elegia. Elegia que se repete todas as noites, quando aquele passarinho azul (tailandês) começa a cantar no meu peito, mas que como na poesia de Bukowski, eu só deixo sair à noite... quando todos estão dormindo.
Jardel Leite