Não conseguia mais ler. Seus pensamentos não estavam mais ali. Todos em casa já dormiam, exceto, é claro, ele. Flávio passara a tarde dormindo e por isso estava sem um pingo sequer de sono.
Sentia-se só, ali naquela mesa da sala tentando ler. Gostava de ler, sempre gostou, mas não conseguia mais. Guardou o livro que estava lendo – O Lobo do Mar, de Jack London – em sua gaveta.
Depois se flagrou pensando em Fernanda, imaginando o que ela estava fazendo naquele instante. Já era bem tarde – Meia noite, talvez mais – provavelmente dormindo. Pensou nos belos e perfeitos olhos de sua amada, seu sorriso tímido, seu cabelo... Ah, que saudade ele sentia daquele cabelo! Quantas vezes ele havia passado a mão por eles!
Mas... E se ela não estivesse dormindo? Se estivesse, por coincidência ou por obra da Divina Providência, também pensando nele?! Que bom seria se ele a tivesse em seus braços naquele momento... O que ambos diriam um ao outro? Então lhe veio um pensamento maluco: Já que ambos estavam pensando um no outro – assim ele imaginava, seria possível encontrar-se naquele instante? Talvez por algum poder místico de um desses santos protetores de casais apaixonados.
Então se lembrou da lenda do Conde Drácula, num livro que lera uma vez. O sombrio Conde, pretendendo apoderar-se de uma de suas vítimas, materializou-se, por meio de uma densa névoa, no quarto da donzela e tomando-lhe a vida, cravando-lhe as presas no pescoço.
Ah se ele pudesse materializar-se da mesma forma no quarto de Fernanda! Cravar-lhe-ia não dentes, mas beijos apaixonados em sua boca e seu pescoço! Para evitar uma possível fuga, colocaria seu braço em volta daquela cintura tão cobiçada pelos homens e tão invejada pelas mulheres.
Faria declarações vivas de amor e lealdade ao pé do ouvido, temendo ser descoberto, assim como no livro de Stoker.
Mas o que o movia, obviamente, não era sede de sangue, e sim de amor! Uma semana sem vê-la... Que saudade violenta! Por que não se ver todos os dias? Não beijá-la sempre que quisesse? Flávio perdia-se em tais indagações.
Talvez assim, vendo-se tão pouco, uma ou duas vezes por semana, o encontro fosse mais esperado! Os beijos, irmãos separados pelo acaso, se encontrariam mais apaixonados...
Talvez... Talvez...
Jardel Leite
Sentia-se só, ali naquela mesa da sala tentando ler. Gostava de ler, sempre gostou, mas não conseguia mais. Guardou o livro que estava lendo – O Lobo do Mar, de Jack London – em sua gaveta.
Depois se flagrou pensando em Fernanda, imaginando o que ela estava fazendo naquele instante. Já era bem tarde – Meia noite, talvez mais – provavelmente dormindo. Pensou nos belos e perfeitos olhos de sua amada, seu sorriso tímido, seu cabelo... Ah, que saudade ele sentia daquele cabelo! Quantas vezes ele havia passado a mão por eles!
Mas... E se ela não estivesse dormindo? Se estivesse, por coincidência ou por obra da Divina Providência, também pensando nele?! Que bom seria se ele a tivesse em seus braços naquele momento... O que ambos diriam um ao outro? Então lhe veio um pensamento maluco: Já que ambos estavam pensando um no outro – assim ele imaginava, seria possível encontrar-se naquele instante? Talvez por algum poder místico de um desses santos protetores de casais apaixonados.
Então se lembrou da lenda do Conde Drácula, num livro que lera uma vez. O sombrio Conde, pretendendo apoderar-se de uma de suas vítimas, materializou-se, por meio de uma densa névoa, no quarto da donzela e tomando-lhe a vida, cravando-lhe as presas no pescoço.
Ah se ele pudesse materializar-se da mesma forma no quarto de Fernanda! Cravar-lhe-ia não dentes, mas beijos apaixonados em sua boca e seu pescoço! Para evitar uma possível fuga, colocaria seu braço em volta daquela cintura tão cobiçada pelos homens e tão invejada pelas mulheres.
Faria declarações vivas de amor e lealdade ao pé do ouvido, temendo ser descoberto, assim como no livro de Stoker.
Mas o que o movia, obviamente, não era sede de sangue, e sim de amor! Uma semana sem vê-la... Que saudade violenta! Por que não se ver todos os dias? Não beijá-la sempre que quisesse? Flávio perdia-se em tais indagações.
Talvez assim, vendo-se tão pouco, uma ou duas vezes por semana, o encontro fosse mais esperado! Os beijos, irmãos separados pelo acaso, se encontrariam mais apaixonados...
Talvez... Talvez...
Jardel Leite
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