sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um grito de amor do centro do mundo

     Confesso que comprei esse livro há mais de um ano e por um motivo ou outro (falta de tempo, uma lista enorme de outros livros para serem lidos, etc.) vim adiando sua leitura. Também é certo que o título em si do livro nunca me despertou tanta curiosidade. Hoje, me arrependo por ter demorado tanto a começar a lê-lo!

     Lembro que na época, eu só o tinha comprado pois era Literatura Japonesa (que eu adoro!) e estava louco atrás do maior número de livros de autores diferentes (já tinha alguns do Kenzaburo Oe, Kawabatta, Haruki Murakami, Akutagawa, Yukio Mishima, Natsume Soseki, etc.).

     O livro é pequeno (155 pág.) e a história te prende do começo ao fim! Talvez por isso (aliado ao meu período de férias na faculdade) eu consegui lê-lo em um único dia.

     Um grito de amor do centro do mundo realmente faz jus à Literatura Japonesa: delicado, sutil e, de certa forma, pessoal (é um daqueles livros que oferecem uma experiência única para cade leitor, em função do seu estado de espírito durante a leitura). Com isso, se você estiver bem, emocionalmente seguro de si, deveras atarefado nas atividades do dia a dia, talvez ache que esse livro seja só mais um livrinho piegas sobre o amor entre dois adolescentes. No entanto, quando a leitura é feita de forma mais atenta, dedicada, e quando o seu lado sentimental está, digamos, 'aflorado', a leitura te deixará marcado por um bom tempo (eu mesmo quase fui às lágrimas umas 3 ou 4 vezes).

     O livro já vendeu mais de 4 milhões de cópias só no Japão! A história fez tanto sucesso entre os japoneses que virou mangá e um seriado.




     Amor, amizade, sofrimento, morte... o livro nos traz a triste, mas bela, história de dois jovens Aki e Sakutarô, que iniciam uma amizade ainda na escola (ensino fundamental) e veem essa amizade se transformar em amor. Porém o amor entre eles termina (?) de forma trágica: Ela adoece e morre, mas ele não quer/consegue esquecer. Spoiler? Não se preocupem, ficamos sabendo da morte de Aki logo nas primeiras páginas. A história não é contada de forma linear. Usando técnicas parecidas com os flashbacks, variando entre presente e passado, ficamos sabendo como acontece todo o ocorrido.

     Evidentemente a história em si não nos traz nada de novo. A Literatura está cheia de casos semelhantes, mas o que é interessante é a maneira magnífica como tudo é contado. Eu prometi a mim mesmo tomar cuidado com os adjetivos, mas é difícil me controlar!



     Segundo o psicanalista austríaco Igor Caruso, uma separação nada mais é do que a vivência da morte em uma situação vital: é a vivência da morte do outro em minha consciência e da minha morte na consciência do outro. Digo morte, não necessariamente no sentido literal da palavra, mas das diversas mortes ou perdas das quais estamos sujeitos.

     Quando a perda é grave, a pessoa precisa de um tempo para se reerguer (período que chamamos de luto). Período este necessário para recuperarmos nossa individualidade, nosso equilíbrio. Porém, no livro, este período parece nunca chegar para Sakutorô, mesmo com  passar dos anos.


     Apesar de tudo o que ocorre, Aki ainda permanece viva dentro de Sakutarô: viva em sua memória e em seu coração. Os relacionamentos podem terminar, mas de forma relativa. Acho que só quem já passou por uma situação de perda (não necessariamente de morte), entende o que eu quero dizer. Eu já, talvez por isso o livro me pareceu tão convincente.


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