Não se sabe bem como tudo aquilo começou. Não se sabe bem desde quando ele começou a se sentir daquela forma, a ter aqueles pensamentos. Mas a questão é que eles estavam lá, em sua cabeça.
E eram assim todos os domingos. Aquela nostalgia, tristeza de nem sei bem o quê. Seria típico de todos os domingos ou seria mais uma de suas idiossincrasias? Como saber? Afinal era domingo.
Tentou entreter-se um pouco com a televisão. Tinha agora uma programação especial com mais de duzentos canais a seu dispor. Antes era apenas a chamada “TV aberta”. Mas não mais, não desde que fora promovido em seu emprego, há uns dois anos, conseguira um aumento de cinqüenta por cento em seu ordenado. Mas nada naquela extensa programação chamava sua atenção por mais de cinco ou seis segundos. Seus olhos estavam voltados para dentro de si.
Foi na cozinha preparar uns dois ou três sanduíches daqueles bem turbinados (hambúrguer, queijo, presunto...). Talvez assim conseguisse dessa forma tão comum, preencher o vazio que sentia dentro de si, embora algo lhe dizia que não seria com comida que satisfaria esse seu tipo de necessidade.
Depois de comer foi se sentar em sua poltrona para ler um pouco. Seues olhos passaram por diversos livros: poesia, enciclopédias, história, romances... Até mesmo seu estudo sobre o candomblé na Bahia (cujo artigo sobre o assunto ele já estava quase terminando) foi capaz de lhe despertar algum interesse. Fechou todos os livros e os deixou no chão, ao seu lado. Cerrou os olhos, pôs a mão em seus olhos e julgou ter adormecido.
Quando acordou, já era noite. Adormecera a tarde toda e ficou triste por isso. Nem ao menos estava com sono. Seu dia de folga passara totalmente em vão. Amanhã iria voltar ao trabalho e tentar demonstrar a naturalidade e otimismo que sua função exigia. Seu papel para os outros (e para si mesmo).
Mas ainda é domingo. Foi tomar um banho, desligou o computador e foi dormir. E sonhou que amanhã ainda seria domingo.
Jardel Leite
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