sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Anticristo, de Lars Von Trier


O que dizer de O Anticristo?

Pertubador? Enigmático? Profundo? Decepcionante? Realmente é complicado lançar qualquer adjetivo sem parecer falso ou exagerado. Eu acredito que, da mesma forma que os expectadores amam (ou odeiam) os outros filmes do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, não é possível realmente descrever o filme, a não ser assistindo-o. Esse filme só atinge seu real significado para expectadores que já conhecem os meios de Lars, sua simbologia, metáforas, suas provocações e analogias...

Esse é o segundo filme do cineasta que eu assisti (o primeiro foi Melancolia). E de início já pude perceber algo em comum logo no início: As cenas em câmera lenta e uma bela melodia ao fundo (Lascia ch’io Pianga, da ópera Rinaldo, de Handel.)

É certo que o enredo do filme por si só, já comove.

Um casal, que não se sabe o nome, apenas que o homem é um analista e a mulher uma intelectual (interpretados por Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) está sofrendo pela recente perda de seu filho, que sofre um acidente ao cair da janela no exato momento em que os pais fazem amor.



No período que se segue, o casal se muda para uma cabana afastada de tudo, para que o marido, terapeuta, possa trabalhar os traumas, medos e anseios da esposa, já que a mulher parece ter uma estranha ligação com a cabana. Mas coisas estranhas começam a acontecer...


 


Não quero entrar em detalhes, e tirar o prazer de assistir ao filme, mas o que se segue são cenas de violência, sexo, perseguição, tortura e terror psicológico (a esposa estaria neurótica e sofrendo de doenças psíquicas ou estaria sofrendo influências do sobrenatural?).

De certo, o filme é cheio de simbolismos, eu pude notar alguns:

- O veado com um filhote preso ao corpo (a esposa acabara de perder o filho);
- Os chamados 'Três mendigos" que quando surgem anunciam uma morte (relação com os três reis magos que anunciam o nascimento de Cristo?)
- O nome da floresta ser Éden (alguma alegoria com a bíblia?)
- O marido ter sido 'incapacitado" pela mulher justamente na perna (enquanto a esposa trocava, propositadamente os sapatos - esquerodo pelo direito - di filho, forçando-o à uma pequena deformação nos pés);
- Entre outros...

 

De fato esses simbolismos podem até não terem sido percebidos logo de cara, mas talvez, vendo o filme pela segunda vez, é possivel notar que algumas coisas não aparecem só por aparecer. Elas tem um significado mais profundo. Eu mesmo, durante o filme, tive a estranha sensação de que coisas estavam acontecendo ao redor, mas não conseguia identificar (ou absorver) seu significado.

 



 

O próprio título do filme: O Anticristo, seria inspirado no nome do livro do filósofo Friederich Nietzsche, um favoritos do cineasta? Não se sabe, mas provavelmente este seja mais um dos simbolismos do filme!

Resumindo:

O Anticristo, de Lars Von Trier, é um filme extremamente passível a interpretações. O que dependerá, é claro, do conhecimento prévio e  do estado de espírito do público. Vale a pena conferir!

domingo, 23 de junho de 2013

Obsceno

O artista francês Jean-Pierre Ceytaire em seu ateliê.


Hoje, bem no meio de minhas leituras, encontro este interessante questionamento, feito por Montaigne:

"O que pode o ato sexual, tão natural, legítimo, ter feito ao homem para que ele não ouse mais falar do assunto sem vergonha e para que exclua dos discursos sérios e moderados? Dizemos corajosamente: matar, roubar, trair; por que só aquilo deveria ser pronunciado à boca pequena?"

Faz sentido, claro. Nós, pessoas 'civilizadas' de uma maneira geral, temos uma tendência a nos sentirmos incomodados à quase tudo relacionado ao sexo, como se fosse algo errado ou proibido. Um tabu? Pelo menos aqui no Ocidente, mas creio que não seja exatamente assim no Oriente.

Obra de Jean-Pierre Ceytaire

Aprendemos desde cedo a ser cautelosos com a escolha de nossas palavras, e em grande parte das vezes, até com nossos pensamentos. Assim, algumas pessoas continuam com essas programações mentais, mesmo depois de adultos. Alguns até dirão que foi a educação recebida, mas não sou totalmente de acordo com essa afimação. Quando reprimimos tais pensamentos (e vontades) tendemos a criar sentimentos reprimidos, o que pode, em alguns casos, desencadear sintomas neuróticos.

É a velha e tradicional disputa entre o id (depósito ou conjunto de nossos impulsos instintivos, agressivos e sexuais - na grande parte das vezes inconscientes) e o superego (Nossa consciência, representando nossa assimilação ou aceitação, dos padrões recebidos dos nossos pais e da sociedade). Ambos os termos são bem conhecidos na psicologia.

Obra de Jean-Pierre Ceytaire




 Não creio que chegue a ser hipocrisia das pessoas não aceitar tais vontades, até por que algumas dessas vontades precisam realmente ser controladas. Talvez algumas pessoas simplesmente não aceitem que podem, ou devem, dar ouvidos a tais vontades, ou fetiches (Há alguns limites, claro - zoofilia, pedofilia, necrofilia, etc).

Todos nós temos interesse pelo tema. Quem nunca, secretamente, teve sua atenção redobrada em determinado trecho de filme ou livro quando este se torna um pouco mais 'picante'? Quando aparece alguma mulher nua? Eu particulamente confesso: sou um desses!

Creio que seja visível: pessoas sexualmente bem resolvidas tendem a ser mais felizes. Já ouviram a expressão "essa daí tá precisando é 'namorar'". A frase pode parecer machista, mas ela tambem é perfeitamente aplicada aos homens, acreditem.

Alguns se satisfazem com a pornografia tradicional (fotos ou videos em que pode-se até mesmo ver o útero da 'atriz'). Outros preferem algo ainda mais ousado (sexo com animais, anões, idosos, pessoas deformadas, cenas de tortura, fezes e/ou urina, etc.). Não é bem o meu caso. Eu me sinto mais atraido por algo mais sutil.

Bad Boy, de Eric Fischl

Algumas possoas podem até rir (e não acreditar) no que eu vou falar, mas pornografia não é a minha especialidade. No campo da literatura (erotica), por exemplo, me sentiria um pouco mais a vontade em falar. Mas ai já seria um assunto para um outro post.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sonhos, de Akira Kurosawa


Amigos, creio que já é do conhecimento de todos que um dos meus cineastas favoritos é o japonês Akira Kurosawa. Não sei bem o motivo, mas creio que seja por que sempre tive uma quedinha pelo antigo Japão tradicional, não o atual (o Pop). Eu sempre tive uma tendência a ser meio melancólico e o que seria mais tradicional e melancólico do que as antigas vilas dos samurais, a cultura milenar dos japoneses, a tradicional cerimônia do chá, (etc, etc.)?

Kurosawa influenciou uma série de diretores no ocidente (Coppola, Spielberg, Scorsese, George Lucas, entre outros). Para os mais estudiosos da história do Cinema, ele não foi o melhor cineasta do Japão, mas sem dúvida é o mais conhecido entre nós, principalmente por conta de seus filmes de samurai.

Nesse final de semana acabei de assistir o filme Sonhos (1990). Adianto logo que o filme não comenta nada sobre samurais, pois trata-se de breves episódios (ou sonhos) que abrangem diversos temas. O que mesmo assim não me desapontou em nada.




O filme é extremamente bonito. Acho que essa é a palavra correta a ser usada. Bela fotografia, excelentes cenários, figurino, trilha sonora... Creio que para aqueles que possuem uma alma sensível (e me arrisco até a dizer, um mínimo de bom gosto) é bem provável que após assistir Sonhos você não seja mais o mesmo.

Exagero? Acho que não. 

Lendas do folclore japonês (Um raio de sol através da chuva e A tempestade) O perigo e as consequências que o homem está sujeito ao horror radioativo (Monte fuji em vermelho e Demônio que chora). A destruição da natureza (O Jardim das pessegueiras), a tragédia da honra militar e os soldados que se recusam a aceitar sua morte (O túnel). A beleza das paisagens que serviram de inspiração para o pintor holandês Vicent Van Gogh (Corvos). A utopia de uma pequena vila que vive como os homens de antigamente, sem tecnologia, apenas em harmonia com a natureza (O vilarejo dos moinhos).

Assistam, não há mais o que dizer. Um filme que precisa ser apreciado não só com os olhos, mas também com o coração.


segunda-feira, 3 de junho de 2013