O que dizer de O Anticristo?
Pertubador? Enigmático? Profundo? Decepcionante? Realmente é complicado lançar qualquer adjetivo sem parecer falso ou exagerado. Eu acredito que, da mesma forma que os expectadores amam (ou odeiam) os outros filmes do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, não é possível realmente descrever o filme, a não ser assistindo-o. Esse filme só atinge seu real significado para expectadores que já conhecem os meios de Lars, sua simbologia, metáforas, suas provocações e analogias...
Esse é o segundo filme do cineasta que eu assisti (o primeiro foi Melancolia). E de início já pude perceber algo em comum logo no início: As cenas em câmera lenta e uma bela melodia ao fundo (Lascia ch’io Pianga, da ópera Rinaldo, de Handel.)
É certo que o enredo do filme por si só, já comove.
Um casal, que não se sabe o nome, apenas que o homem é um analista e a mulher uma intelectual (interpretados por Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) está sofrendo pela recente perda de seu filho, que sofre um acidente ao cair da janela no exato momento em que os pais fazem amor.
No período que se segue, o casal se muda para uma cabana afastada de tudo, para que o marido, terapeuta, possa trabalhar os traumas, medos e anseios da esposa, já que a mulher parece ter uma estranha ligação com a cabana. Mas coisas estranhas começam a acontecer...
Não quero entrar em detalhes, e tirar o prazer de assistir ao filme, mas o que se segue são cenas de violência, sexo, perseguição, tortura e terror psicológico (a esposa estaria neurótica e sofrendo de doenças psíquicas ou estaria sofrendo influências do sobrenatural?).
De certo, o filme é cheio de simbolismos, eu pude notar alguns:
- Os chamados 'Três mendigos" que quando surgem anunciam uma morte (relação com os três reis magos que anunciam o nascimento de Cristo?)
- O nome da floresta ser Éden (alguma alegoria com a bíblia?)
- O marido ter sido 'incapacitado" pela mulher justamente na perna (enquanto a esposa trocava, propositadamente os sapatos - esquerodo pelo direito - di filho, forçando-o à uma pequena deformação nos pés);
- Entre outros...
De fato esses simbolismos podem até não terem sido percebidos logo de cara, mas talvez, vendo o filme pela segunda vez, é possivel notar que algumas coisas não aparecem só por aparecer. Elas tem um significado mais profundo. Eu mesmo, durante o filme, tive a estranha sensação de que coisas estavam acontecendo ao redor, mas não conseguia identificar (ou absorver) seu significado.
O próprio título do filme: O Anticristo, seria inspirado no nome do livro do filósofo Friederich Nietzsche, um favoritos do cineasta? Não se sabe, mas provavelmente este seja mais um dos simbolismos do filme!
Resumindo:
O Anticristo, de Lars Von Trier, é um filme extremamente passível a interpretações. O que dependerá, é claro, do conhecimento prévio e do estado de espírito do público. Vale a pena conferir!
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