sábado, 8 de março de 2008

Adormecida


Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço de horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
Iam na face trêmulos - beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as belas tranças!

E o ramo ora chegava, ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...


Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"O' flor! - tu és a virgem das campinas!
Virgem - tu és a flor da minha vida

Castro Alves

Nenhum comentário: