sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Guerra Civil Espanhola


1936 – Começa a Guerra Civil Espanhola, após um fracassado golpe de um setor do Exército, liderado pelo general Francisco Franco, contra o governo republicano.

De um lado se posicionaram as forças do nacionalismo e do fascismo, aliadas às classes e instituições tradicionais da Espanha: Exército, Igreja Católica e proprietários de terra. Do outro, a Frente Popular que formava o governo da Segunda República, representando os sindicatos, partidos de esquerda e partidários da democracia.

O conflito foi considerado uma preestreia da Segunda Guerra Mundial, prova de força entre países que disputavam a hegemonia mundial.

A Alemanha nazista e a Itália fascista apoiavam o golpe do general Franco, enquanto os republicanos foram apoiados pela União Soviética e, sobretudo, pelas Brigadas Internacionais, formadas por 38 mil homens, voluntários esquerdistas e comunistas que vieram de mais de 50 países.

Do Brasil, o voluntário mais famoso foi Apolônio de Carvalho.

Uma das mais violentas e famosas batalhas acontecidas nesse período foi o bombardeio aéreo alemão sobre a cidade de Guernica, tema de uma das mais famosas obras do pintor Pablo Picasso.

Em janeiro de 1939, as tropas do general Franco entraram em Barcelona e, no dia 28 de março, Madri se rendeu aos militares, depois de ter resistido por quase três anos a poderosos ataques aéreos, de blindados e de tropas de infantaria.

Com a vitória completa dos nacionalistas em abril de 1939, Franco se converteu em chefe de Estado, do governo e do Exército e eliminou toda a resistência militar.

Prosseguiu com a repressão, a tortura e os fuzilamentos. Implantou um sistema político repressivo e autoritário, com apoio da Igreja e do Exército. Todos os partidos políticos foram proibidos.

Após a morte do ditador, em 1975, a Espanha voltou a ser uma monarquia.

O escolhido por Franco, Juan Carlos de Borbón, assumiu o trono, e a Espanha passou a ser uma monarquia constitucional, com o regime democrático solidamente implantado no país.

domingo, 23 de agosto de 2009

E À NOITE...

Não conseguia mais ler. Seus pensamentos não estavam mais ali. Todos em casa já dormiam, exceto, é claro, ele. Flávio passara a tarde dormindo e por isso estava sem um pingo sequer de sono.

Sentia-se só, ali naquela mesa da sala tentando ler. Gostava de ler, sempre gostou, mas não conseguia mais. Guardou o livro que estava lendo – O Lobo do Mar, de Jack London – em sua gaveta.

Depois se flagrou pensando em Fernanda, imaginando o que ela estava fazendo naquele instante. Já era bem tarde – Meia noite, talvez mais – provavelmente dormindo. Pensou nos belos e perfeitos olhos de sua amada, seu sorriso tímido, seu cabelo... Ah, que saudade ele sentia daquele cabelo! Quantas vezes ele havia passado a mão por eles!

Mas... E se ela não estivesse dormindo? Se estivesse, por coincidência ou por obra da Divina Providência, também pensando nele?! Que bom seria se ele a tivesse em seus braços naquele momento... O que ambos diriam um ao outro? Então lhe veio um pensamento maluco: Já que ambos estavam pensando um no outro – assim ele imaginava, seria possível encontrar-se naquele instante? Talvez por algum poder místico de um desses santos protetores de casais apaixonados.

Então se lembrou da lenda do Conde Drácula, num livro que lera uma vez. O sombrio Conde, pretendendo apoderar-se de uma de suas vítimas, materializou-se, por meio de uma densa névoa, no quarto da donzela e tomando-lhe a vida, cravando-lhe as presas no pescoço.
Ah se ele pudesse materializar-se da mesma forma no quarto de Fernanda! Cravar-lhe-ia não dentes, mas beijos apaixonados em sua boca e seu pescoço! Para evitar uma possível fuga, colocaria seu braço em volta daquela cintura tão cobiçada pelos homens e tão invejada pelas mulheres.

Faria declarações vivas de amor e lealdade ao pé do ouvido, temendo ser descoberto, assim como no livro de Stoker.

Mas o que o movia, obviamente, não era sede de sangue, e sim de amor! Uma semana sem vê-la... Que saudade violenta! Por que não se ver todos os dias? Não beijá-la sempre que quisesse? Flávio perdia-se em tais indagações.

Talvez assim, vendo-se tão pouco, uma ou duas vezes por semana, o encontro fosse mais esperado! Os beijos, irmãos separados pelo acaso, se encontrariam mais apaixonados...
Talvez... Talvez...

Jardel Leite

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Gigolô das palavras

"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda."


Biografia: Carlos Heitor Cony

Filho de Ernesto Cony Filho, jornalista, e de Julieta de Moraes, Carlos Heitor Cony nasceu no dia 14 de março de 1926 na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Lins de Vasconcelos, zona norte da cidade. Foi o terceiro dos quatro filhos do casal: Giovane Alceste (falecido em 1920), José Heitor, Cony e José Carlos.

Quatro anos depois muda-se para a cidade vizinha de Niterói - RJ, onde residiria por dois anos. Tido como mudo pela família, somente aos cinco anos pronuncia suas primeiras palavras. O fato ocorreu em virtude de um susto que levou com o barulho de um hidroavião que realizou um vôo rasante na praia de Icaraí, naquela cidade. Para evitar maiores constrangimentos ao menino, sua família decide educá-lo em casa.

Em 1934, já de volta ao Rio, faz sua primeira comunhão e passa a ser ajudante de missa na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro de Vila Isabel. Sua dificuldade com a dicção das palavras - principalmente trocando o "g" pelo "d" - fazia com que fosse alvo das brincadeiras de seus amigos. Resolve, então, escrever inúmeras vezes a palavra fogão em seu caderno. Mostra aos amigos e, como eles não riram, entendeu que para não se tornar motivo de chacota deveria dedicar-se à palavra escrita.

Aos dezoito anos manifesta o desejo de tornar-se padre. Seu pai o prepara para o exame de admissão e, após aprovado, ingressa no Seminário Arquidiocesano de São José, em Rio Comprido - RJ, no dia 3 de março de 1938.

Livra-se definitivamente de seu problema da fala, em 1941, após uma operação realizada pelo médico Pedro Ernesto do Rego Batista, ex-prefeito do Rio de Janeiro.

Deixa o seminário em outubro de 1945 e ingressa, no ano seguinte, na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que abandona pouco depois.

Em 1947 surge a oportunidade de cobrir as férias de seu pai no Jornal do Brasil, então um grande diário da cidade. Para garantir seu ganha-pão, consegue nomeação e torna-se funcionário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

No ano seguinte entra para o Curso de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), na arma de Infantaria, de onde sairia dois anos depois.

Em 1949 casa-se com Maria Zélia Machado Velho, mãe de suas duas filhas: Regina Celi (1951) e Maria Verônica (1954). Esta é a primeira das seis uniões conjugais de Cony.

Começa a trabalhar como redator na Rádio Jornal do Brasil, em 1952.

Influenciado por Jean Paul Sartre, filósofo e autor francês, escreve "O Ventre". Em 1956 concorre ao Prêmio Manuel Antônio de Almeida (Romance), promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Austregésilo de Athayde, Celso Kelly e Manuel Bandeira, que compuseram a comissão julgadora, foram unânimes em dizer que o romance era "muito bom", mas não poderiam premiá-lo por se tratar de uma obra forte demais para vencer um concurso oficial.

No ano seguinte, irritado com a atitude da comissão julgadora, inscreve-se novamente com o romance "A verdade de cada dia", escrito em apenas nove dias. Ao trabalho, analisado por Carlos Drummond de Andrade e Austregésilo de Athayde, é outorgado o Prêmio Manuel Antônio de Almeida.

"Tijolo de segurança" é o trabalho inscrito por Cony para concorrer ao mesmo Prêmio no ano seguinte. É declarado novamente vencedor, tendo a comissão julgadora sido constituída por Rachel de Queiroz, Antônio Callado e Antônio Olinto. A Editora Civilização Brasileira, de propriedade de Ênio Silveira, publica "O Ventre". Firma, nessa ocasião, contrato com o escritor para a entrega regular de obras de ficção, procedimento que não era freqüente à época.

Em 1959 lança "A verdade de cada dia" e escreve seu quarto romance, "Informação ao crucificado".

Vai trabalhar no Correio da Manhã, jornal de renome no país, como copidesque, em 1960. No ano seguinte, revezando com Octávio de Faria, assina a coluna "Da arte de falar mal". Esses artigos transformaram-se em livro de crônicas, editado em 1963 com o mesmo título da seção. Lança "Tijolo de segurança".

Em 1961 é publicado "Informação ao crucificado" e, em 1962, lança seu quinto romance, "Matéria de memória".

Passa a escrever coluna no jornal Folha de São Paulo, em 1963, revezando com Cecília Meireles.

Eclode a revolução, em 1964, e o escritor continua com a inspiração a todo vapor: lança "O ato e o fato", crônicas escritas na imprensa; o romance "Antes, o verão", e um conto sobre a luxúria para ser incluído na coletânea "Os sete pecados capitais", editado naquele ano, com a participação de Otto Lara Resende, José Conde, Lygia Fagundes Telles, Guimarães Rosa, Mário Donato e Guilherme Figueiredo.

Em 1965 escreve uma crônica atacando o Ato Institucional nº. 2. Tal fato gera um atrito entre a direção do jornal Correio da Manhã e a redação. Cony demite-se. É convidado pela TV Rio para escrever uma novela sobre a baixa classe média do Rio, ex-capital do país. O programa foi ao ar entre março e abril daquele ano, contando com Eva Wilma e John Herbert à frente do elenco e a direção de Antonino Seabra. Após 37 capítulos, problemas com a censura fazem com que o escritor seja substituído por Oduvaldo Viana. É preso, juntamente com Mário Carneiro, Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade, o embaixador Jaime Azevedo Rodrigues, o diretor teatral Flavio Rangel e os jornalistas Antônio Callado e Marcio Moreira Alves, quando participava de uma manifestação em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro. O grupo, que ficou conhecido como "Oito do Glória", foi detido pela Polícia do Exército, em cujo quartel ficou prisioneiro. Esta seria a primeira das seis prisões do escritor por motivos políticos. Mesmo assim, lança "Posto Seis", crônicas, e "Balé branco", romance. Participa da coletânea "Os dez mandamentos" com o conto "Amar a Deus sobre todas as coisas".

No ano seguinte participa da coletânea "64 D.C." (o título, veladamente, dizia respeito a 64 Depois de Castello, primeiro militar a governar o país após a revolução de 1964).

Vai a Cuba, em 1967, onde fica por quase um ano. Participa, em Havana, como membro do júri do concurso promovido pela Casa de las Américas. Lança, no Brasil, seu oitavo romance, "Pessach:a travessia". Seu romance "Matéria de memória" começa a ser adaptado para o cinema por Paulo Gil Soares, projeto que só seria terminado em 1968 por Fernando Coni Campos. O filme, com o título de Um homem e sua jaula, teve no elenco Helena Ignez e Hugo Carvana.

Retornando de Cuba, em 1968, é preso ao pisar em solo brasileiro. A convite de Adolpho Bloch, passa a trabalhar nas revistas do Grupo Manchete. Publica "Sobre todas as coisas", contos. Em 1978 essa obra seria reeditada com o título "Babilônia!, Babilônia!". Volta a ser preso pelo regime militar no dia 13 de dezembro, data da decretação do Ato Institucional nº. 5. Fica detido quase um mês. Seu romance "Antes, o verão" é adaptado para o cinema por Gerson Tavares. Nos papéis principais, Norma Benguell e Jardel Filho.

A convite das Edições de Ouro, do Rio de Janeiro, inicia um longo trabalho de adaptação de clássicos da literatura internacional, em 1970.

Em 1971 escreve seu nono romance, "Pilatos".

Lança, pela Bloch Editores, que passou a publicar seus textos de não-ficção, "Quem matou Vargas?", biografia do ex-presidente do Brasil inspirada em série que escrevera para a revista Manchete em anos anteriores, em 1972.

No ano seguinte nasce André Heitor, seu filho com Eleonora Ramos. Falece D. Julieta, sua mãe.

Seu romance "Pilatos" é publicado em 1974. Nessa ocasião, Cony declara, para espanto geral, que jamais voltaria a escrever outro romance.

"O caso Lou", livro-reportagem, é publicado em 1975. No ano seguinte, dirige "JK, a voz da História", da Rede Manchete de Televisão. Casa-se com Beatriz Lazta, sua atual mulher.

A visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980, é coberta por Cony para a revista Manchete, trabalho que voltaria a fazer 11 anos depois.

Em 1981 lança novo livro-reportagem: "Nos passos de João de Deus".

Seu pai, Ernesto Cony, falece em 1985.

Baseada em projeto e sinopse de sua autoria e de Adolpho Bloch, estréia na TV Manchete, em 1989, Kananga do Japão, novela de Wilson Aguiar Filho dirigida por Tisuka Yamasaki.

Em 1993, depois de sentido afastamento, volta à imprensa diária ao assumir a coluna "Rio" no jornal Folha de São Paulo, em substituição a Otto Lara Resende, que morrera no ano anterior. Em 1996 passa a escrever aos sábado no caderno "Ilustrada" daquele diário e, também, a integrar o Conselho Editorial da Folha.

Lança seu décimo romance, em 1995, "Quase memória", editado pela Companhia das Letras. É dedicado a Mila, cadela que o acompanhava havia 13 anos. O livro foi inspirado em suas lembranças do pai.

Recebe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra, em 1996. O livro "Quase memória" ganha dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro ("Melhor Romance" e "Livro do Ano - Ficção"). Publica seu décimo primeiro romance, "O piano e a orquestra", vencedor do Prêmio Nacional Nestlé de Literatura.

Em 1997 lança seu décimo segundo romance, "A casa do poeta trágico", novamente premiado com dois Jabutis, pela Câmara Brasileira do Livro ("Melhor Romance" e "Livro do Ano - Ficção").

Recebe, em Paris, a comenda da Ordre dês Arts et des Lettres no grau de Chevalier, concedida pelo governo francês, em 1998. Participa da série "O escritor por ele mesmo", do Instituto Moreira Salles, apresentando-se nos centros culturais de São Paulo e Belo Horizonte.

Por encomenda, em 1999, de sua editora Companhia das Letras, escreve "Romance sem palavras", publicado nesse mesmo ano. Apresenta-se no Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas - MG, dentro da série "O escritor por ele mesmo".

Em março de 2000 é eleito, com 25 dos 37 votos possíveis, para a cadeira número 3 da Academia Brasileira de Letras. Toma posse em maio daquele ano.